A memória domina o antes, o agora e o depois. Sem ela não existem nomes, rostos. Não existem horas, minutos, segundos. Sem a memória não existe tempo. Existe apenas uma total ausência do Eu, do Nós e do Mundo. A compreensão do carácter primordial da memória fica fácil, quando esta nos falta. No começo tudo é límpido, a capacidade de voltar atrás é fácil, mas estes são conceitos que não sobrevivem à passagem do tempo. Num momento de tomada de consciência percebemos que tudo vai desvanecendo e que o passado não existe sem memória.
Deslembrar nasce da necessidade de lembrar, de voltar ao momento anterior. De revisitar pessoas e lugares que já não existem em mim e que se desvanecem na minha memória. Da tentativa de tomada de consciência do que passou, do que foi. Tocar no concreto e no metafórico. Da busca por o que me é ausente, mas presente. Deslembrar atravessa o passado e alberga uma mente inquieta que anseia não esquecer. É nele que reencontro a minha infância, a minha família. É nele que me encontro.
Utilizando a fotografia como instrumento de catarse exploro o conceito de memória através de uma atitude fotográfica menos convencional. Proponho um mergulhar profundo num conjunto de processos visuais que abrangem uma perspectiva mais alargada da fotografia. Assim propus-me a criar imagens que representassem a ausência do tempo, a fragmentação, a falta de identidade. A perda das memórias que acreditei serem eternas.
(Trabalho em progresso)